No século XVIII, a igreja que sobreviveu ao renascimento medieval está tentando sobreviver ao iluminismo. A agenda secular agora não é mais as obras de arte, mas sim a fundamentação do mundo centrado no homem. Alguns dizem que Deus talvez não exista, enquanto outros dizem que o homem veio do macaco.
Um flerte entre a igreja e o novo pensamento é inevitável, entrentato a diferença é que o envolvimento não se restringe ao baixo e alto clero. Teólogos estão tentando entrar no jogo. Talvez pelo medo da teologia sair dos anais da academia, os doutores da igreja tentam conciliar o estudo que põe Deus no trono com os estudos que põe o homem no lugar de Deus. É o início do liberalismo teológico.
A doutrina cristã já não é mais só estudada do ponto de vista da escolástica, da metafísica e da hermenêutica tradicional. O método histórico-crítico de interpretação Bíblica, por exemplo, começa a ser celebrado por muitos estudiosos, especialmente teólogos protestantes, o que vai permitir uma transformação radical no entendimento das verdades bíblicas. Um século depois essa praga diabólica estará corroendo almas nos seminários.
Se a teologia e a dogmatica ortodoxa estão sendo combatidas dentro da própria Santa Igreja, a liturgia, muito mais frágil, está em curso muito mais descendente. Com a teologia liberal, a própria ressurreição do Nosso Senhor já está difícil de justificar. O que se dirá então da liturgia?
As novas igrejas do final do século XIX e do século XX não querem saber de liturgia. Tais igrejas perderam totalmente o contato com a eclesiologia e teologia clássicas. Elas usam apenas o que precisam para se manterem viáveis. Enquanto isso as igrejas tradicionais, que persistem no cristianismo ortodoxo, estão sendo invadidas pelo movimento carismático e pela teologia liberal.
As igrejas que ainda utilizam a liturgia, as igrejas tradicionais, especialmente nos ramos mais tradicionais destas, ainda a justificam da mesma forma que as gerações anteriores: usando como base os sinais bíblicos da liturgia, tais como a Oração Dominical e as palavras da instituição da Santa Ceia, e a crença fundamental de que a liturgia, uma arte de ordenação e administração da Comunhão, é a melhor regra culto e contraste com a regra carismática.
A regra carismática de culto é aquela que coloca em primeiro lugar o Carisma da comunidade e do ministro na adoração. Isto é, um culto sem milagres, sem profecias, sem choro e sem dons extraordinários não é um culto. Os carismáticos acreditam que o culto a Deus é exatamente como as ações carismáticas de Cristo na terra. Nosso Senhor foi essencialmente carismático. Ele não dava um passo sem curar e sem trazer palavras diretamente dos Céus.
Os carismáticos, especialmente os pentecostais, também associam seu culto aos fenômenos ocorridos no Pentecostes que foi um momento especial na história da Igreja onde os Apóstolos fizeram milagres diante de uma multidão. Foi o momento da descida do Santo Espírito de Deus. A Terceira Pessoa da Trindade.
A igreja tradicional, por outro lado, não crê que a melhor regra de culto seja a carismática pelo simples fato de que a Igreja não é Cristo e que o dia do Pentecostes foi um dia único, isto porque o Espírito Santo só desceu naquele dia, para todo o sempre-- Ele já está entre nós. Portanto, a Igreja cultua a Deus independente de qualquer ação carismática, ou seja, ela precisa ser zelosa e solene, independente de qualquer fenômeno extraordinário. Isto é, o culto a Deus precisa ser litúrgico. Litúrgico como foi a primeira Comunhão, a Ceia do Senhor e de Seus Apóstolos. Uma refeição sagrada e ordenada.
Isto não altera o fato da Igreja ser para sempre carismática. Cultuar a Deus de forma liturgica não invalida a ação do Santo Espírito, que continua a acompanhar a Igreja por todos os séculos. A miopia não está na ordenação liturgica, a miopia está em achar que o carisma seja tudo. Deus é maior do que o carisma, porque ele é a fonte do carisma. Adoremos a Deus independente de milagres públicos. Na realidade, a adoração carismática vai mesmo é colocar seus adoradores num caos público.
A falta de uma liturgia poderá causa a falta da repetição da comunhão, coisa que existe desde o tempo dos Apóstolos, a falta da solenidade e do respeito que devem ser devidos a Deus, a falta do zelo e da ortodoxia, na forma correta de adoração e por último a falta de um guia para que os fiéis cultuem a Deus.
A ordem da liturgia
Dos tempos antigos até hoje as liturgias mudaram significativamente. Isto porque a Igreja sempre acreditou nas suas diferenças apesar da sua catolicidade. Mesmo na Igreja Católica Romana, a mais hierárquica e centralizada, as diferenças litúrgicas são visíveis.
Até o periodo niceno, o culto era estritamente dividido em culto dos catecúmenos e culto dos fiéis, divisão que começou a cair em desuso depois da legalização da igreja. O culto dos catecúmenos servia basicamente para excomungar o infiel da Santa Comunhão, que é fechada apenas aos fiéis, ou seja, aos que já declararam sua fé e que sabem distinguir o Pão e o Vinho. As duas missas eram feitas de forma separada, mas uma seguida da outra.
A igreja ocidental uniu as duas numa só, mas a igreja oriental ainda celebra uma missa de catecúmenos. Aliás, a igreja oriental é que tem ainda a maior diversidade de ritos e de simbologia. O oriente tem uma liturgia extremamente simbólica. A igreja ocidental é muito mais simplificada.
Seja como for os pormenores, a liturgia da missa, ou do culto, é basicamente dividida em quatro partes:
- Ritos Iniciais
- Santas Escrituras
- Celebração Eucarística
- Ritos Finais
As divesas igrejas da cristandade vão passar por essas partes de diversas maneiras possíveis. De um lado, a igreja oriental usando, por exemplo, o rito bizantino, vai preencher essas lacunas fazendo uso de uma extensa gama de repetições simbólicas. É necessário muito estudo para um fiel entender tudo que ele está fazendo ou vendo numa missa oriental caso ele não queira se afogar no meio de tantos gestos.
Do lado completamente oposto, um culto puritano, como por exemplo o da Igreja Livre da Escócia, a liturgia será simplíssima, com leituras simples, orações espontâneas e coral à capela.
Continua na Parte IV
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